Subway

Houve um pesado silêncio quando Charlotte acabou de falar. Médico e paciente olhavam-se nos olhos, absortos, talvez distraídos com as muitas possibilidades que simples 24 horas podiam oferecer.
- Posso dar-lhe alguns medicamentos estimulantes, mas não aconselho o seu uso-disse finalmente o Dr.Benson.- Eles afastarão o sono, mas também levarão a paz de que necessita para viver tudo isso.
Charlotte começou a sentir-se mal; sempre que tomava aquela injecção, algo de mal acontecia no seu corpo.
- Voçê está a ficar mais pálida. Talvez seja melhor ir para a cama, e voltaremos a conversar amanhã.
Ela sentiu de novo vontade de chorar, mas continuou mantendo o controlo.
- Não haverá amanhã, e o senhor sabe disso. Estou cansada Dr. Bensosn, extremamente cansada. Por isso perdi os comprimidos. Passei a noite em claro, entre o desespero e a aceitação. Podia ter um novo ataque histérico de medo, como aconteceu ontem, mas de que adiantaria? Se ainda tenho 24 horas de vida, e há tantas coisas diante de mim, decidi que era melhor deixar o desepero de lado.
«Por favor, Dr. Benson, deixe-me viver o pouco tempo que me resta - porque nós dois sabemos que amanhã pode ser tarde.»
- Vá dormir - insistiu o médico. - E volte aqui ao meio-dia. Tornaremos a conversar.
Charlotte viu que não havia saída
- Vou dormir, e voltarei. Mas ainda temos alguns minutos?
- Alguns poucos minutos. Estou muito ocupado hoje.
- Vou ser directa. Ontem á noite, pela primeira vez, masturbei-me de uma maneira completamente livre. Pensei em tudo o que nunca ousara pensar, tive prazer em coisas que antes me assustavam ou me repugnavam.
O Dr. Benson assumiu a postura mais profissional possível. Não sabia onde esta conversa poderia levar, e não queria problemas com os seus superiores.
- Descobri que sou uma prevertida, doutor. Quero saber se isso contribuiu para que eu tentasse o suicídio. Há muitas coisas que eu desconhecia em mim mesma.
Durante o seu curso de medicina, o Dr. Bensosn lera um interessante tratado sobre as minorias sexuais: sadismo, masoquismo, homosexualidade, coprofagia, voyeurismo, desejo de dizer palavras sórdidas - enfim, a lista era muito extensa. No início, achava que aquilo era apenas o desvio de algumas pessoas desajustadas, que não conseguiam ter um relacionamento saudável com o seu parceiro.
No entanto, à medida que ia avançando na profissão de psiquiatra dava-se conta que toda gente tinha algo de diferente para contar.
Nunca mais se ouviu falar de Charlotte.
Comentários