Primeira Impressão
Ao encontrarmos uma pessoa, às vezes ao entrarmos num lugar, temos impressões positivas ou negativas. Impressões imediatas que consideramos irracionais porque vêm antes de qualquer reflexão, de qualquer real conhecimento do outro. Esta impressões são, em geral tanto mais vivas quanto mais importante é o encontro.
Quando temos que realizar um trabalho em conjunto ficamos quase submersos por estas impressões. E procuramos defender-nos delas para podermos avaliar objectivamente o outro, sem nos deixarmos perturbar pela emotividade e pelos nossos preconceitos.
Sobre este ponto os homens pretendem ser mais racionais do que as mulheres, procuram ser mais objectivos. E acusam as mulheres de se entregarem demasiado facilmente às impressões de simpatia e antipatia evocadas, talvez, por um pormenor insignificante.
Nada há, dizem, de mais enganador que a memória. Só recordamos o que é útil ou justifica a nossa acção presente. Quando rompemos com um amigo, vêm-nos á mente repentinamente um número incrível de maldades. Como um casal que se divorcia. A vida passada parece-lhes insuportável e infame. Porque recordam apenas os acontecimentos desagradáveis e não as alegrias, da felicidade sentida juntos.
Dizem que não há nada mais enganador que a memória. Só recordamos o que é útil ou justifica a nossa acção presente. A memória, porém, não pode transformar o passado. Pode recordar ou esquecer, não pode modificar a recordação.
Só a razão pode deformar, camuflar, mascarar, enganar.
Nem todos nos apresentamos às outras pessoas com uma máscara apropriada construída pela razão. A nossa encenação é tanto mais cuidada e bem sucedida quanto mais a outra pessoa é importante e quanto mais a conhecemos profundamente.
E eis então o facto paradoxal. É muito mais fácil enganar uma pessoa quando a conhecemos há muito tempo do que quando a conhecemos pela primeira vez.
No primeiro encontro nós não estamos preparados. Não sabemos nada do outro. Procuramos ser agradáveis. Mas como fazer? Mostrando-nos faladores ou reflexivos, divertidos ou sérios, tímidos ou seguros? No primeiro encontro, as pessoas encenam um repertório casual utilizado outras vezes e sem muita convicção. Uma barreira muito frágil, uma mascarada inconsciente. O olhar indagador atravessa-o, intui aspectos de nós que mantivemos escondidos de todos e que até esquecemos.
Todo o ser humano tem a capacidade de intuir imediatamente o espírito do outro. Nós vemos o interior dos outros seres humanos com a mesma clareza com que vemos as cores, com que ouvimos os sons. Quando não nos deixamos enganar pela máscara, não podemos errar quanto ao significado de um gesto.
O sorriso é alegria, o olhar furtivo desconfiança, a grosseria violência, a falta de atenção desinteresse, a não compreensão estupidez, o dizer sempre que sim fraqueza. O gesto de pegar significa avidez, o de reter avareza, o olhar preocupado ciúme, a observação malévola inveja. No primeiro encontro tudo é transparente como a água. A primeira impressão é uma fotografia, feita com uma película ultra-sensível, da parte mais profunda do espírito do nosso interlocutor.
É verdade que é difícil decifrá-la.
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