A la Minute

De uma maneira geral, quando pensamos na amizade, pensamos na necessidade, no favor. De facto, recorremos aos amigos quando temos necessidade. Por vezes recordamo-nos deles quando estamos em dificuldade. Mas não são estes os momentos que constituem a verdadeira amizade. Não tendo continuamente necessidade um do outro que nos tornamos amigos. Assim, em casos destes, podem nascer muitos dissabores.
A amizade não sobrevive se apenas nos dedicamos a um amigo na condição de termos sempre necessidade dele. A amizade é incompatível com um desequilíbrio demasiado do poder. Se eu tenho necessidade de algo cuja satisfação depende do outro, então o outro tem poder sobre mim.
Portanto, se recorro sempre a um certo amigo, acabo por depender dele, confiro-lhe poder. Poder que se tornará tanto maior quanto mais me colocar nas suas mãos. Este comportamento contrasta totalmente com a soberania da amizade e, inevitavelmente, acaba por a distorcer.
Mesmo que o outro tenha a melhor das disposições em relação a mim, mesmo que me faça as coisas de boa vontade. Basta que uma vez esteja desatento, esteja em dificuldade, ou simplesmente um pouco farto, e sentir-nos-emos traídos. Comportando-nos assim actuamos como preguiçosos e portanto, não agimos como amigos. Carregámo-lo de deveres, obrigámo-lo definitivamente. Fizemos-lhe sentir a nossa amizade como um peso.
A amizade deve ser sempre leve. O amigo deve poder ajudar livremente. Mas isso pressupõe a necessidade ocasional, não a habitual.
A amizade é dádiva ocasional, não bondade permanente.
Obrigado a todos por me terem ajudado a estar em paz comigo mesmo.
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